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Economia circular: um novo valor para negócios sustentáveis

Os impactos ambientais estão aumentando a agenda de governos, empresas e consumidores. Analisamos por que essa é uma questão que demanda grande atenção dos CEO’s das organizações e como a economia circular pode ser explorada nesse sentido.

As credenciais ecológicas de uma empresa e melhores práticas não são mais apenas a preocupação de investidores ativos ou chefes de departamento de meio ambiente, social e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês, como são conhecidas internacionalmente). Agora, eles também são uma questão de destaque para os CEO’s.

Larry Fink, executivo-chefe da empresa americana de investimentos BlackRock, afirmou em 2018 que o ESG deveria "transformar todos os investimentos das empresas", em ações de impacto mais amplo, que se intensificariam dentro de cinco anos.

Uma maneira de abordar esses desafios é explorar a tendência para uma economia circular (CE).

O que é a economia circular?

Superficialmente associada à reciclagem de resíduos, na realidade a definição de economia circular abrange todo o ciclo de vida do produto. Seus princípios visam projetar resíduos e poluição, reutilizar ou regenerar recursos e manter produtos e materiais em uso durante todo o ciclo de vida do produto para criar um sistema de circuito fechado. Também pode significar mudar seu modelo de negócios da venda para a locação, para que você possa gerenciar o impacto da sua empresa do início ao fim.

Qual o cenário atual?

Atualmente, a maioria do material utilizado na fabricação em todo o mundo acaba sendo desperdiçada. “A circularidade mundial é de apenas 9%, o que significa que 91% de todo o material em nossos sistemas econômicos não é usado para ou em um segundo ciclo de vida”, explica Eveline Lemke, fundadora do think tank Thinking Circular.

Também estamos consumindo recursos naturais a uma taxa recorde. Em 2019, os pesquisadores da Global Footprint Network calcularam o Earth Overshoot Day anual (quando a demanda por recursos ecológicos em um determinado ano excede o que a Terra pode regenerar naquele ano) em 31 de julho.

No Brasil, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada em setembro de 2019, revela que 76,4% das indústrias do país desenvolvem algum tipo de economia circular. E os motivos são diversos, como: redução de custos (75,9%), aumento da eficiência operacional (47,3%) e oportunidades de novos negócios (22,6%).

Entrando na economia circular

John Wood, professor emérito de design da Goldsmiths University de Londres, diz que há um argumento convincente para uma nova abordagem. “As empresas devem repensar o antigo conceito de desperdício. Fazer os ciclos de produtos voltarem a produzir mais eficiência e lucros, além de ser responsável com o planeta”.

Alguns governos também estão incentivando a CE por meio de incentivos fiscais. Mikko Kosonen, presidente do Fundo Finlandês de Inovação (Sitra), diz que um conjunto de políticas governamentais – principalmente para incentivar uma CE por meio de reforma tributária – colocará a economia circular no "cerne da agenda de competitividade da Finlândia".

Impacto ambiental e consciência do cliente

Um movimento transformador pode vir mais rápido do que você pensa. Com iniciativas como a Extinction Rebellion no topo da agenda de notícias mundiais, os clientes estão cada vez mais conscientes das questões ambientais e têm maior probabilidade de optar por empresas com menor presença de resíduos.

"Veremos pequenas mudanças, e algumas dessas mudanças serão relacionadas à conscientização por parte do consumidor", explica Wood. “Por exemplo, quanto tempo leva um par de calças justas para apodrecer em aterros? A maioria não é biodegradável. Esse tipo de informação pode ter um efeito enorme quando chegar à consciência pública.”

Wood prevê que uma maior consciência do consumidor significa que os clientes também exigirão mais informações sobre os ciclos de vida dos produtos, demandando das empresas maiores investimentos em novos métodos de rastreamento e auditoria de sustentabilidade. As empresas estão começando a considerar a circularidade como uma maneira de se antecipar a seus concorrentes e se tornarem mais sustentáveis ​​– antes que uma crise aconteça.

Quando as empresas entendem errado os princípios da CE

Embora as empresas devam definitivamente procurar maneiras de melhorar sua pegada ambiental, é crucial que qualquer mudança seja significativa, adequadamente pesquisada e baseada em evidências. Isso pode não ser tão simples quanto parece.

Quando o McDonald's anunciou em 2018 a substituição dos tradicionais canudos plásticos por feitos de papel em suas unidades britânicas, isso foi feito pelo menos em parte para obter publicidade positiva para melhorar a reputação. Mas a revelação de que esses canudos eram mais difíceis de reciclar do que a versão plástica levou a uma reação negativa da mídia.

Veja também

Três maneiras de abordar a economia circular

Sophie Thomas, designer de economia circular e diretora fundadora da agência Thomas.Matthews, aconselha as empresas a abordar seus negócios a partir da metodologia 'hoje, amanhã e no futuro'. Veja como é:

  • Hoje – mudanças que podem ser entregues quase imediatamente - é sobre garantir que você esteja sendo o mais eficiente possível com os materiais que está usando;
  • Amanhã – é sobre a redução no futuro próximo. Você precisa verificar todos os seus materiais: não basta dizer que são recicláveis, mas na verdade estão sendo reciclados o máximo possível;
  • Futuro – está se afastando do material para algo que é recarregável ou olhando para a mudança de materiais ou para a construção de novos sistemas.

A mudança para uma economia circular também se cruza com outras tendências de negócios – incluindo o crescimento da inteligência artificial – e também pode ter um enorme impacto na sua força de trabalho atual.

Etapas simples de economia de custos para circularidade

Qualquer que seja a natureza de uma empresa, é provável que o primeiro passo em direção à circularidade seja uma auditoria da prática atual. “Trabalhamos com clientes da indústria automobilística e de plásticos para reduzir a quantidade de plásticos utilizados, além de introduzir mais material reciclado no processo. Ambas as etapas podem reduzir os custos”, explica Oliver Bridge, diretor da Grant Thornton.

A introdução de mais materiais reciclados na manufatura é um bom passo, mas precisa ser cuidadosamente considerada, especialmente nos produtos com os quais os clientes estão familiarizados. Entretanto, existem mudanças simples que podem ser feitas, como trocar o plástico descartável sempre que possível ou garantir pontos de reciclagem adequados em uma empresa. No futuro, é importante que todas as empresas desenvolvam uma visão geral de sua cadeia de suprimentos e, com isso, comecem a identificar pontos nos quais as mudanças podem ser mais eficazes.

De acordo com Kosonen, que abriu o Fórum Mundial de Economia Circular em junho de 2019, o aumento da ação dos governos e das empresas para reduzir o impacto ambiental sugere que a era do 'paradigma do desperdício de resíduos' está chegando ao fim – e a transição para uma economia verdadeiramente circular pode finalmente estar em andamento.

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