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Globalmente, as mulheres ocupam 32% dos cargos de liderança no setor, abaixo da média global de 33,5%, e abaixo de outros setores, como serviços profissionais (36,2%), gestão de ativos (35,5%) e saúde (37,7%).
A rápida evolução da inteligência artificial (IA) significa que é fundamental garantir atualmente a inclusão de gênero no setor tecnológico para não prejudicar as gerações futuras. Com aplicações abrangentes no local de trabalho, desde recrutamento, contratação, avaliação de desempenho, remuneração e análise do local de trabalho, a Goldman Sachs estima que a IA generativa por si só poderia aumentar o PIB global em 7%. Com isso, revolucionará nossas vidas profissionais.
No entanto, as inovações são muitas vezes excludentes para as mulheres se forem concebidas por uma equipe exclusivamente masculina. Por exemplo, desde a década de 1970, os manequins de testes de colisão têm sido baseados em tipos de corpos masculinos e foi apenas em 2022 que uma equipe de investigadores suecos desenvolveu um novo modelo com base em corpos de mulheres para garantir que os recursos de segurança automotiva funcionassem para ambos os gêneros.
Mesmo que a IA esteja relativamente no seu início, em comparação com o rumo que se prevê que chegue, já existem evidências de “vieses inconscientes” e preconceito. Um artigo da Harvard Business Review de 2019 descreve a falta de diversidade e vieses no software de reconhecimento de fala em inglês com IA compartilhando um estudo dos EUA que mostrou que a tecnologia tinha a melhor taxa de precisão para homens brancos.
Se não for controlado, os preconceitos refletidos nos sistemas de IA podem ter consequências profundas para a igualdade de gênero. Os sistemas de IA aprendem com os dados e, se estes dados não forem representativos de toda a população, os algoritmos resultantes podem ser tendenciosos. É, portanto, crucial incluir mais mulheres nas equipes de desenvolvimento de IA e na liderança sênior da indústria tecnológica para reconhecer preconceitos, especialmente nesta fase inicial de desenvolvimento.
Na visão de David Peneycad, COO da Grant Thornton International, “a diversidade de gênero nas equipes de projetos tecnológicos não é uma iniciativa social, é um imperativo empresarial. À medida que as organizações investem na sua resposta à revolução da IA, garantir que todas as vozes sejam ouvidas levará a um resultado mais eficaz e lucrativo. Cabe aos líderes empresariais de hoje garantir que as mulheres tecnólogas sejam apoiadas e promovidas para que o futuro da indústria seja entregue por um grupo mais equilibrado e representativo. Qualquer coisa a menos será um fracasso de liderança.”
Ao analisar quais são os cargos ocupados por mulheres no setor tecnológico, fica claro que é necessário fazer mais para garantir que as mulheres estejam mais próximas do desenvolvimento da própria tecnologia. As mulheres ocupam apenas 20,2% dos cargos de Direção em empresas de tecnologia de médio porte e 25,8% dos cargos de CEO, em comparação com 45,3% dos cargos de Direção de Recursos Humanos.
É necessário fazer mais para que as mulheres ocupem cargos de liderança seniores que estejam próximos do desenvolvimento de novas tecnologias, para garantir que sejam desenvolvidas de forma equitativa. Portanto, identificamos três áreas nas quais as empresas de médio porte devem se concentrar para ajudar as mulheres a alcançar posições no setor de tecnologia que possam influenciar o desenvolvimento da IA e impulsionar o pensamento inovador: início de carreira, retenção e transparência.
Mulheres e tecnologia - início de carreira
Para desenvolver um fluxo robusto de mulheres líderes em tecnologia é necessário concentrar a atenção nas necessidades das mais jovens à medida que avançam nas suas carreiras. Nutrir o talento num ambiente de trabalho flexível é fundamental para isso, como concluiu o nosso relatório Women in Business 2024, “Caminhos para a equidade”.
É, portanto, encorajador que os dados da pesquisa da Grant Thornton mostrem que as empresas globais de tecnologia de médio porte adotaram um dos modelos de trabalho flexíveis, com 53,8% delas seguindo a jornada híbrida, em comparação com 45,2% nas demais indústrias. Por outro lado, apenas 36,7% exigem que os funcionários trabalhem principalmente no escritório, em comparação com 47% globalmente.
Isto é importante porque “um ambiente de trabalho híbrido pode ajudar a superar as exigências de equilíbrio entre compromissos pessoais e profissionais que algumas mulheres podem enfrentar, ao atingirem a gestão de nível médio numa empresa”, afirma Andrea Schulz, managing partner para a indústria tecnológica da Grant Thornton EUA.
No entanto, as empresas devem estar cientes dos desafios que o trabalho híbrido pode representar para a progressão das mulheres no início das suas carreiras, se não for gerido corretamente pelos líderes seniores. A simples adoção de um modelo de trabalho híbrido não é suficiente. Isto precisa ser apoiado por uma intenção real de cultivar talentos remotamente.
Nutrir o talento num modelo de trabalho híbrido significa mitigar o risco de os colaboradores perderem as interações sociais necessárias ou de não fazerem parte da cultura da sua empresa.
Isto exige que os líderes façam um esforço consciente para serem visíveis e evitarem que as relações com os colaboradores se tornem puramente transacionais, especialmente com aqueles que estão no início das suas carreiras.
Para ajudar a criar ligações intencionais e apoiar as mulheres mais jovens no seu percurso profissional, uma ação que os líderes seniores podem tomar é agir como modelos e oferecer oportunidades de orientação aos colegas mais jovens.
Para ser um modelo eficaz, de acordo com Yannis Krasonikolakis, head de inteligência aplicada, análise preditiva e tecnologia da Grant Thornton Grécia, é necessário que a empresa celebre ativamente os sucessos das mulheres, demonstrando às futuras líderes as qualidades necessárias para ter sucesso. “Precisamos divulgar as conquistas das mulheres, mostrando o que elas podem fazer ao final de um ano, ou de uma década, em um ambiente corporativo.”
Retenção de mulheres na tecnologia
Em parte devido às crescentes aplicações da IA, o setor tecnológico sofreu grandes perdas, o que equivale a mais de 263.000 empregos globais apenas em 2023. Neste ambiente, as empresas de tecnologia devem garantir que os cortes de empregos não afetem desproporcionalmente as mulheres. Para saber se este é o caso é necessário medir a rotatividade por gênero. Infelizmente, os dados de 2024 Women in Business da Grant Thornton mostram que apenas 22,3% das empresas de tecnologia fazem isso.
Não medir a rotatividade de pessoal por gênero significa que as empresas provavelmente tomarão medidas limitadas para garantir que a sua linha de liderança feminina seja segura.
“Não creio que haja qualquer intenção por trás das demissões desproporcionais de mulheres, mas as empresas não estão compilando ou divulgando quaisquer dados”, afirma Andrea Schulz.
Se esta medida for implementada como parte de uma estratégia de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) - conforme recomendado pelo nosso relatório Women in Business 2024, poderá funcionar como um indicador-chave de desempenho vital para medir o sucesso de outras iniciativas de DE&I. Por exemplo, como é que a introdução de uma melhor política de regresso ao trabalho após a licença maternidade ou a introdução de um padrão de trabalho mais flexível impacta a retenção das profissionais? As empresas não podem responder a esta questão sem, em primeiro lugar, medir o volume de turnover.
Yannis Krasonikolakis afirma que “as empresas que priorizam a diversidade no local de trabalho podem atrair e reter talentos mais qualificados, aumentando o desempenho geral, além de a representatividade feminina nas empresas de tecnologia promover um ambiente de trabalho positivo.”
Transparência na indústria de tecnologia
O setor tecnológico é classificado como tendo uma das maiores disparidades salariais entre os gêneros. Por exemplo, as mulheres europeias no setor da tecnologia ganham, em média, 26% menos que os homens. Numa indústria com uma disparidade tão grande, é vital que mais empresas tecnológicas de médio porte analisem essa desigualdade. No entanto, apenas 40,4% o fazem atualmente, de acordo com dados do Women in Business 2024, da Grant Thornton. É especialmente preocupante que este indicador esteja abaixo da média global de 46,8%.
Não é surpreendente que uma grande disparidade salarial desincentive as mulheres de seguirem uma carreira na área da tecnologia. Portanto, demonstrar progresso na redução das disparidades salariais pode ajudar a atrair os melhores talentos, garantindo o envolvimento de uma diversidade de vozes e, em última análise, conduzindo a melhores decisões de negócios.
“Construir a confiança por meio de ações responsáveis e transparentes contribui para criar um local de trabalho inclusivo, o que também ajudará a atrair os melhores talentos do mercado”, afirma Rena Konomi, head de inteligência de automação e tecnologia da Grant Thornton Grécia.
Ao ficarem atrás dos seus concorrentes na divulgação dos progressos na redução da disparidade salarial, as empresas tecnológicas podem descobrir que estão a perder futuras líderes femininas antes mesmo de se candidatarem, enfraquecendo a reserva de talentos. Publicar a sua disparidade salarial é um primeiro passo vital para as empresas de tecnologia superarem esta situação.
Por que avançar urgente em direção à equidade na tecnologia?
Em meio ao desenvolvimento de novas tecnologias, é mais vital do que nunca que as empresas de tecnologia pressionem pela paridade em cargos de liderança sênior, garantindo o desenvolvimento equitativo da tecnologia, como a IA. Para tal, é necessário envolver um conjunto diversificado de vozes nas equipes de desenvolvimento, o que inclui fazer mais para promover e celebrar as mulheres na tecnologia para alcançarem a liderança.
“A IA está mudando rapidamente. Trata-se de garantir que você obtenha mais diversidade e que a IA generativa reflita a realidade de todos”, afirma Andrea Schulz, destacando como os modelos de IA tendenciosos não são um resultado inevitável, mas um subproduto da falta de diversidade nas tomadas de decisões.
As empresas precisam fazer um esforço determinado e consciente para abordar o pipeline de liderança para mitigar os danos de vieses preconceituosos de gênero aplicados nas tecnologias futuras. Concentrar-se nas três áreas recomendadas – aumentar as perspectivas para mulheres em início de carreira na tecnologia, medir a rotatividade por gênero e comprometer-se com uma maior transparência para atrair mulheres para a indústria tecnológica – é vital para a indústria tecnológica global alcançar a equidade de gênero em cargos de liderança.