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Como proteger sua empresa de ameaças cibernéticas

Everson Probst
Por:
Mulher branca em frente a uma tela de computador
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Phishing, ransomware e vazamento de dados figuram entre as principais ameaças enfrentadas pelas empresas brasileiras, compondo um ciclo que pode comprometer a continuidade dos negócios. Apesar desse cenário, observa-se que muitas pequenas e médias empresas ainda atribuem caráter secundário à cibersegurança.

De acordo com a pesquisa realizada pela Grant Thornton Brasil e Opice Blum, essas ameaças lideram a lista de principais preocupações das empresas brasileiras quando falamos em riscos cibernéticos: phishing (69%), vazamento de dados (68%) e ransomware (67%) foram as ameaças mais citados entre os entrevistados.

Pesquisa
Percepção de riscos cibernéticos das lideranças brasileiras
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Mas o que poucos reconhecem é que essas ameaças não atuam isoladamente: elas são interdependentes, alimentando-se mutuamente num ciclo vicioso que começa com a engenharia social e termina em prejuízos operacionais, financeiros, reputacionais e regulatórios relevantes. Contudo, além de entender por que a sua empresa pode estar mais vulnerável do que imagina, é preciso saber como implementar, de forma prática, medidas de blindagem contra esse cenário crescente.

O elo invisível entre phishing, ransomware e vazamentos

O phishing quase sempre é o ponto de partida. Disfarçado em e-mails, mensagens ou links aparentemente legítimos, o ataque visa enganar usuários para obter credenciais ou instalar malwares. O phishing ainda é o principal vetor de ataque utilizado por hacker e crime organizado, e é o mais efetivo justamente porque explora vulnerabilidade de fator humano. Pois, mesmo com firewalls, antivírus e autenticação multifator, as pessoas continuam sendo vulneráveis a engenharia social.

Uma vez que a exploração via phishing é bem-sucedida, o ransomware é implantado e os dados da empresa bloqueados, criptografados ou, pior, exfiltrados para posterior chantagem. Qual o resultado disto? O vazamento de dados sensíveis, paralisação da operação, impacto legal (em especial por conta da LGPD) e danos à reputação difíceis de reverter.

É o que se pode chamar de “tríade da destruição digital”. E o mais preocupante: ela não exige ataques sofisticados e complexos. Na maioria das vezes, basta um clique de um colaborador mal treinado para tudo começar.  

Por que sua empresa pode ser o próximo alvo

Muitas organizações ainda acreditam que ciberataques só afetam grandes corporações. Isso é um erro estratégico. Pequenas e médias empresas são, na verdade, alvos mais fáceis, justamente por não investirem em segurança proporcional ao risco.

Em contrapartida, possuem operação informatizada e dados de clientes, financeiras e credenciais que têm valor de mercado.  A pesquisa revela que apenas 55% das microempresas consideram a cibersegurança entre suas maiores prioridades — contra 75% das grandes.

Outros dados alarmantes

  • 25,8% das empresas dizem não estar preparadas para um ataque, e 8,1% sequer sabem avaliar seu grau de preparo. 
  • Apenas 21,4% avaliam seus treinamentos como eficazes, sendo que 15% não treinam seus colaboradores de forma alguma. 

Outras pesquisas como publicadas pela Verizon DBIR e da IBM, indicam que mais de 40% dos ataques cibernéticos visam PMEs. 

A realidade é que a falta de preparo aumenta o impacto dos ataques. Segundo dados internacionais, 60% das PMEs que sofrem um ataque cibernético grave encerram suas atividades em até seis meses. 

Como se proteger das três ameaças phishing: reduzindo o erro humano na prática 

Phishing é, sobretudo, um problema de comportamento. Treinamento e conscientização são os pilares centrais para evitá-lo. Confira a seguir algumas ações que possuem alta eficácia. 

  • Treine continuamente com campanhas realistas de simulação de phishing;
  • Use reforços visuais como banners, alertas e vídeos curtos; 
  • Implemente filtros de e-mail robustos com análise de links e anexos; 
  • Ative o SPF, DKIM e DMARC para impedir falsificação do seu domínio

Não se trata apenas de ensinar o colaborador a “não clicar em links estranhos”, mas de criar uma cultura organizacional vigilante e desconfiada por padrão. Adicionalmente, recomenda-se adotar uma abordagem positiva em campanhas de phishing, priorizando a educação e o engajamento dos colaboradores de modo construtivo. Ao incentivar a identificação e o reporte de tentativas de phishing, ao invés de recorrer a punições ou constrangimentos por eventuais erros, a simulação torna-se uma oportunidade de aprimoramento contínuo, contribuindo para o fortalecimento de uma cultura organizacional de segurança mais robusta e eficaz. 

Ransomware: Prevenir, detectar e recuperar

  • MFA obrigatório em todos os sistemas com acesso remoto ou administrativo;
  • MF adaptativo para prevenir contra acessos com credenciais válidas; 
  • Backups offline, imutáveis e testados periodicamente; 
  • Segmentação de rede e acesso com base no mínimo privilégio; 
  • Ferramentas EDR/XDR com resposta automatizada; 
  • Atualizações frequentes de sistemas e softwares. 

Mas tecnologia sozinha não basta. Planos de resposta testados e exercícios simulados são fundamentais para agir com rapidez quando um ataque ocorrer.  

Um bom plano de resposta define o que, quem, quando e como fazer, em caso de incidente. No contexto de ransomware, ele é vital para: 

  • Reduzir o tempo de resposta: quanto mais rápido a equipe age, menor o impacto;
  • Conter a propagação: isolar máquinas e redes evita a propagação do malware; 
  • Preservar evidências: para investigação, responsabilização e seguros; 
  • Comunicar com clareza: evita pânico e garante alinhamento estratégico; 
  • Atender à legislação: como a LGPD, que exige notificação em caso de vazamento. 

Já os exercícios simulados (ou tabletops), que podem ser técnicos (voltado ao time de resposta técnica) ou executivos (voltado ao comitê de crise) são essenciais para garantir a prontidão operacional e preparo da liderança apara decisões práticas. 

Essas medidas aceleram a detecção e resposta a ataques de ransomware, reduzem o tempo de inatividade, minimizam prejuízos financeiros e reputacionais e aumentam as chances de recuperar dados sem pagar resgate. 

Vazamento de dados: Proteger, monitorar e responder

O vazamento pode ocorrer devido a ransomware, phishing bem-sucedido, falhas de configuração ou negligência interna. Observa-se um aumento dos chamados ataques duplos: após um incidente de ransomware, além da criptografia dos dados, há ameaças de divulgação de informações confidenciais ou pessoais. Esse aumento está associado à redução nos pagamentos de resgate por criptografia de dados, resultado do aprimoramento dos processos técnicos de backup e restauração. Como consequência, alguns agentes passaram a divulgar dados publicamente para pressionar o pagamento. 

Para reduzir o risco: 

  • Implemente DLP básico (em e-mail, armazenamento em nuvem e dispositivos);
  • Restrinja o uso de dados sensíveis com controles de acesso e logging; 
  • Avalie o risco de terceiros: metade das empresas ainda ignora essa etapa crítica;
  • Crie um plano de notificação conforme exigido pela LGPD e ANPD (em até 72h). 

E, principalmente, entenda onde estão seus dados sensíveis e quem tem acesso a eles. Sem esse inventário, qualquer controle será cego. 

Seguro cibernético ainda é negligenciado

Apesar do aumento nos riscos, apenas 25% das empresas possuem seguro cibernético, segundo o estudo. E esse número cai ainda mais entre PMEs. 

Embora não substitua controles e prevenção, o seguro pode evitar o colapso financeiro após um incidente. A cobertura inclui desde honorários legais até despesas com investigação, resposta técnica e notificação a titulares de dados. Vale lembrar: empresas que já sofreram ataques e não tinham plano nem seguro arcaram sozinhas com multas, honorários e prejuízos reputacionais. 

A ameaça é real e a proteção está ao seu alcance

Phishing, ransomware e vazamento de dados não são mais riscos “futuros” ou “de grandes empresas”. Eles estão no centro das preocupações do mundo digital, e as PMEs brasileiras estão particularmente expostas. 

  • Blindar sua empresa contra essas ameaças passa por quatro frentes;
  • Educar e conscientizar as pessoas; 
  • Implantar controles técnicos básicos e eficazes; 
  • Preparar-se para responder com agilidade; 
  • Criar uma cultura de segurança, com apoio da liderança. 

Terceirizar segurança para MSSPs pode ser mais viável que montar equipe interna. Ignorar esses riscos não é uma opção, mas enfrentá-los com inteligência e estratégia é uma vantagem competitiva — especialmente em um mercado onde segurança e confiança são ativos cada vez mais valiosos.