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Como medir os impactos da atuação do terceiro setor?

Imagine que você integra o quadro executivo de uma instituição de caridade bem-sucedida que apoia pessoas desabrigadas com acomodação e refeições. Os abrigos oferecidos beneficiam centenas de pessoas em sua própria cidade em todo o mundo. Os abrigos estão mais ocupados do que nunca, mas você mede o impacto por quanto tempo leva para um indivíduo se recuperar e encontrar um emprego estável – agora são menos de quatro meses em comparação com mais de seis meses no ano passado.

As suas doações e financiamentos estão em baixa, sua equipe de liderança tem preocupações sobre como conseguir manter sua missão de ajudar os desabrigados no futuro. Você também avalia como a instituição de caridade pode ser administrada de forma mais eficiente e eficaz se os recursos forem ampliados - e saber como dar o pontapé inicial nos principais projetos que você planejou para 2019.

Sua missão, caso decida aceitá-la, é colocar a mensuração do impacto no centro do seu trabalho.


Uma jornada de impacto no terceiro setor

Líderes do terceiro setor estão cada vez mais se identificando com a situação relatada acima, apesar de cada organização estar em sua própria jornada de impacto. As doações globais continuam a diminuir e são diversas as incertezas econômicas ao redor do mundo que influenciam na tendência cética do público em geral quando se trata de confiança e resultados de trabalhos relacionados à caridade.

Isso levanta algumas questões oportunas para organizações sem fins lucrativos que trabalham pela mudança social:

  • Como o cenário está sendo alterado como resultado de novos entrantes no mercado?
  • Qual é a melhor maneira de maximizar as oportunidades criadas?
  • Como você determina a melhor estrutura de mensuração de impacto para ajudá-lo a se destacar da multidão, articular seus sucessos, aumentar as doações e garantir o financiamento para alcançar suas missões?

As respostas a essas perguntas podem auxiliar na comunicação com os diversos stakeholders que uma instituição de caridade precisa considerar. Sua diretoria ou liderança sênior, funcionários, voluntários, doadores, financiadores e o público em geral seguramente mantêm instituições para explicar como o dinheiro é gasto e quais progressos foram obtidos. Sendo assim, manter uma política de transparência e governança corporativa são fundamentais.

As pessoas querem "fazer o bem"

Instituições de caridade são muitas vezes a fonte padrão de suporte para causas que valem a pena, mas não há garantia de que esse status irá durar para sempre. As instituições de caridade não possuem ações de caridade. Como disse recentemente a baronesa Stowell, presidente da Comissão de Caridade da Inglaterra e do País de Gales, "as instituições de caridade não têm um monopólio natural e eterno da canalização de nossos impulsos altruístas". Embora ela possa ter esta opinião em relação ao Reino Unido, existe um entendimento comum em todo o setor de que não é uma questão de geografia - é um desafio global para se comunicar, entender e entregar melhor.

Hoje existem muitas pessoas e organizações que buscam melhorar a sociedade e aliviar suas injustiças, o que, obviamente, é uma boa notícia para os beneficiários. Empresas privadas, empresas sociais, plataformas de financiamento online e indivíduos que fazem doações diretas para pessoas com necessidades imediatas, todas se sobrepõem à área em que as instituições de caridade tendem a operar.

A forma como o sucesso é medido e relatado por essas diferentes entidades varia muito, mas com um hábito comum de compartilhar histórias positivas sobre o impacto no mundo real. Crucialmente, há a tentação de relatar o sucesso em prazos curtos, mesmo que o maior impacto possa ocorrer ao longo de anos. Em um mundo de mídia social e manchetes de 24 horas, é fácil ser desviado. Ter capacidade de avaliação eficaz é entender o seu impacto ao longo de meses, anos e até gerações.

Desde organizações com um propósito declarado até as Benefits Corporations, que buscam tanto lucros quanto a melhoria do mundo ao seu redor, fica claro que um número cada vez maior de corporações está procurando um impacto social e ambiental positivo. Um exemplo proeminente é o IMPACT2030, liderado pelo setor privado, apoiado pelas Nações Unidas. O projeto busca cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU de acabar com a pobreza mundial e lidar com as mudanças climáticas, reunindo recursos, habilidades e experiências do mundo corporativo.

 

IMPACT2030

Em setembro de 2018, o CEO da Grant Thornton International Ltd, Peter Bodin, foi anunciado como presidente do conselho IMPACT2030. Peter Bodin disse: “Se o setor privado pode envolver as pessoas, elas podem concentrar sua energia coletiva na realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Isso representará um verdadeiro progresso em direção a um futuro melhor e mais sustentável para todos”.

Engajar funcionários ou equipes para ajudar a promover essas metas globais é uma abordagem que não se baseia apenas em grandes corporações. Uma pesquisa sobre o engajamento dos funcionários mostrou que até três quartos dos millennials teriam um corte salarial para trabalhar em uma empresa socialmente responsável. E o que esta geração atualmente não tem em renda disponível é compensado por seu desejo de trabalhar e ser voluntário para causas de caridade. Curiosamente, como os millennials devem representar 35% da população ativa do mundo até 2020, eles podem ultrapassar os Baby Boomers como a geração mais generosa.

Causas de caridade, e aqueles que ajudam, estão se beneficiando de apoio adicional na forma de dinheiro, bens ou pessoal fornecido por empresas e um grande número de grandes corporações estão participando. Através da empresa em que trabalham ou através de plataformas de captação de recursos como o Go Fund Me, as pessoas agora podem doar diretamente para a causa escolhida.

Sabemos que os Millennials valorizam muito a transparência e a informação. No entanto, muitas plataformas de financiamento online são geralmente menos acessíveis em relação aos resultados, e nem todas as grandes corporações compartilham atualizações regulares de progresso. As instituições de caridade que contam sua história, reforçadas por informações factuais e claras sobre o impacto que estão tendo, podem ser uma forma de engajar a geração do milênio.

Instituições com governança corporativa saem na frente

Em um mundo com maior sobreposição entre instituições de caridade e outras organizações que têm impacto sobre o mesmo grupo de beneficiários, há muito o que aprender um do outro.

Como todos nós já vimos nas várias reportagens da imprensa nos últimos dois anos, as organizações sem fins lucrativos estão sob os holofotes mais do que nunca. Isto não é necessariamente algo ruim. Na verdade, instituições de caridade podem usar isso como uma oportunidade para avaliar onde estão em sua jornada de mensuração de impacto e fazer um balanço de onde estão suas prioridades.

Examinar a forma como o impacto é medido e as tendências dos resultados ao longo do tempo podem ajudar a informar a tomada de decisões, destacando as questões de gerenciamento de riscos. Isso, por sua vez, fornece informações que capacitam os conselheiros a responsabilizar sua equipe executiva de forma mais eficaz e ajudar a instituição a promover uma mudança positiva mantendo o rumo certo.

Instituições de caridade têm a oportunidade de atender às necessidades de transparência e prestação de contas de seus doadores, financiadores e equipes de liderança como um ponto de diferença. No Brasil, a Lei dos Fundos Patrimoniais (n° 13.800/2019), também conhecidos como endowments, foi um importante avanço nesse sentido, trazendo maior segurança jurídica aos doadores e gestores de projetos sociais, além de promover maior transparência e governança corporativa ao terceiro setor, prevendo a distinção das responsabilidades entre quem gere os fundos e as instituições apoiadas.

 

Como adaptar uma estrutura de medição de impacto?

Todas as instituições de caridade podem usar a mensuração de impacto como forma de ajudar a realizar seu potencial. É importante lembrar que medir impacto é escalável e pode ser construído e revisado durante um período de tempo - não precisa ser um processo oneroso.

Instituições de caridade que não sabem ao certo por onde começar devem aproveitar ao máximo seus recursos existentes e, talvez, começar pequenas.

A Grant Thornton e a University of Western Australia conduziram pesquisas projetadas para ajudar instituições de caridade a fazer exatamente isso. O resultado oferece um processo de dez etapas para as instituições de caridade considerarem. Os principais estágios são:

  • Decida o sucesso: quais são os objetivos de curto, médio e longo prazo;
  • Alinhe os objetivos de um projeto ao plano estratégico mais amplo da instituição de caridade;
  • À medida que a caridade avança em sua jornada, estabeleça uma estrutura de reporte;
  • Decida quem é responsável por coletar dados, analisá-los e gerar relatórios;
  • Considere a auditoria como parte do processo de governança.

 

Este processo é uma boa base que as instituições de caridade podem adaptar para atender às suas necessidades. Independentemente do estágio em que sua instituição de caridade se encontra, o impacto deve estar no centro do seu trabalho.

Para ler mais sobre as etapas que sua instituição de caridade pode tomar para começar a jornada de medição, visite o Programa de Avaliação de Resultados, produzido pela Grant Thornton Austrália.

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