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Segurança cibernética em pequenas e médias empresas: desafios e oportunidades

Everson Probst
Por:
Seguranca Digital PME
Um ataque cibernético. Um erro. Um trimestre fora do ar. Esses foram os fatores que levaram ao encerramento das atividades de uma Pequena e Média Empresa (PME) de varejo online.
Destaques

O incidente de segurança digital envolveu um ransomware, ausência de backups válidos e a falta de um plano de resposta adequado. Após três meses, houve demissão em massa e o fechamento definitivo da empresa. Este caso exemplifica uma estatística preocupante: 60% das pequenas empresas encerram suas atividades em até seis meses após um ataque cibernético grave, segundo levantamento da Cybersecurity Ventures
 
No Brasil, a explosão de ameaças contra pequenas e médias empresas virou regra. E o que antes era tratado como um “problema de TI” passou a ameaçar receita, reputação e continuidade operacional. O alerta veio de todos os lados 
 
A pesquisa Riscos Cibernéticos da Grant Thornton Brasil, em parceria com a Opice Blum, mostra que 79% dos executivos percebem suas empresas mais expostas do que nos anos anteriores. Não é exagero: entre outubro de 2022 e outubro de 2023, a Kaspersky bloqueou 192 milhões de tentativas de ataques contra PMEs brasileiras — uma a cada dez segundos. 

Além disso, 31,5 bilhões de tentativas de ataque foram registradas no país em 2022, colocando o Brasil entre os principais alvos globais. Em termos de ameaças percebidas, o pódio é claro: phishing (69%), vazamento de dados (68%) e ransomware (67%) lideram. 
 
Mas, se o risco cresceu, a estrutura ainda tropeça. 

Onde as PMEs mais falham em segurança cibernética 

Os dados da pesquisa desenham um retrato pragmático: 

  • 66,1% se dizem estruturadas, mas o restante admite fragilidade (25,8%) ou não sabe avaliar (8,1%) 
  • 40% já sofreram incidentes concretos 
  • 67% têm plano de resposta a incidentes, o que ainda deixa um terço no escuro 
  • 76% usam scanners de vulnerabilidade, mas 24% não usam ou não sabem 
  • Apenas 25% possuem seguro cibernético 
  • E embora 69,7% ofereçam treinamentos, só 21,4% consideram esses programas eficazes 

O problema não é só técnico — é estrutural. Falta governança, sobra improviso. 

Cultura: treinamento sem resultado 

A maioria das empresas treina, mas poucas medem. O resultado: programas genéricos, com baixa retenção e pouca eficácia contra os ataques de engenharia social — justamente o vetor mais comum. 

Processos: risco terceirizado 

Metade das empresas não avalia riscos em terceiros. Quando a liderança não está envolvida, a chance de existir um mapa de riscos cai para menos de 20%. Sem isso, qualquer nova tecnologia vira aposta. 

Tecnologia: visão parcial 

Mesmo com scanners em uso, 11% das empresas ainda convivem com vulnerabilidades críticas. A ausência de SOC (Service Organization Control) interno e a subestimação do tempo de detecção/contensão ampliam o impacto. Além disso, 25% das PMEs não têm reserva orçamentária para resposta a incidentes — o que também ajuda a explicar a baixa adoção de seguro. 

Oportunidades de alto impacto com baixo atrito 

Segurança madura não exige megaprojetos. Exige decisões com ROI claro. Abaixo, cinco medidas com retorno real em até 90 dias:
 

  • NIST CSF 2.0 como roadmap inicial: O framework do NIST oferece um caminho modular. O foco deve ser evoluir do Tier 1 (ad hoc) para o Tier 2 (políticas definidas) em seis meses, priorizando os domínios Identify e Protect. A própria pesquisa mostra: empresas com mapeamento de riscos têm controles mais robustos.
  • SOC-as-a-Service e MDR: PMEs não precisam bancar um SOC interno. Serviços gerenciados de detecção e resposta 24×7 custam de R$ 7 mil a R$ 15 mil/mês — valor menor que o salário de três analistas. Modelo OPEX, escalável, com retorno imediato.
  • Treinamento gamificado + simulações: A lacuna de eficácia nos programas atuais abre espaço para microlearning contínuo com phishing simulado. Segundo benchmarks da KnowBe4, a taxa de incidentes cai 70% após três ciclos trimestrais.
  • Seguro cibernético com lastro técnico: Apólices mais competitivas são liberadas quando há uso de MFA, backups testados e resposta ensaiada. O seguro, além da cobertura, funciona como indutor de governança.
  • Automação de patch + varredura contínua: Ataques não esperam janelas de manutenção. Integrações plug-and-play entre scanners SaaS e ferramentas de orquestração de patch aumentam a taxa de correção em até 90% nos três primeiros meses (dados de MSSPs brasileiros).

O custo de não agir 

Executivos experientes não perguntam mais “quanto custa fazer?”, e sim “quanto custa não fazer?”. Eis três respostas objetivas: 

  1. Tempo parado: Se o faturamento diário é de R$ 500 mil e o tempo médio de recuperação pós-ransomware é 15 dias, o prejuízo supera R$ 7,5 milhões. O seguro cibernético custa menos e protege mais.
  2. Multas e sanções: 58% das empresas que sofreram incidentes não notificaram autoridades, desrespeitando obrigações legais (ANPD e Bacen). A multa pode ser de até R$ 50 milhões ou 2% do faturamento anual.
  3. Barreiras comerciais: Cadeias de fornecimento exigem compliance com a LGPD, ISO 27001 ou CIS Controls. A ausência de certificação ou evidência pode barrar contratos, licitações e entrada em novos mercados.

Roadmap 12 meses: do improviso à resiliência 

Para sair do Tier 1 e atingir maturidade básica, PMEs podem seguir este roteiro: 

Trimestre 1 – Diagnóstico, política formal, SOC-as-a-Service. 
Trimestre 2 – Automação de patch, MFA, treinamento gamificado. 
Trimestre 3 – Seguro cibernético atrelado a controles, backup validado. 
Trimestre 4 – Simulação de incidente, revisão do plano, base Zero Trust. 
 
Afinal, segurança digital não é mais um “item de TI” — é diferencial competitivo, pré-requisito de continuidade e facilitador de negócio. As PMEs que se estruturam colhem mais que proteção: colhem acesso a novos contratos, confiança do mercado e estabilidade operacional.